sábado, 16 de outubro de 2021

"Cinco Esquinas " - Mario Vargas Llhosa.



*Tradução : Paulina Wacht e Ari Roitman.
*Editora : Alfaguara.                 


       "Cinco Esquinas " fala sobre o jornalismo no estilo imprensa marron, lesbianismo, sexo à três, vida opulenta, artista frustrado e a luta pela sobrevivência !
   " Cinco Esquinas "  é o nome de  um bairro pobre e violento onde mora Juan Peineta e a "Baixinha" ou a jornalista Julieta ! 
        Injustamente, Quique ou o engenheiro Enrique Cárdenas sofre uma chantagem de um jornalista que se chama Rolando Garro e ele tem toda a sua vida "machucada", prejudicada, por isso !
        Marisa, esposa de Quique é amiga de Chabela, esposa de Luciano, amigo de infância de Enrique Cárdenas ! Entre elas acontece uma amizade "diferente" !
        Os personagens que eu mais gostei foram : Juan Perneita, o recitador de poemas, o verdadeiro artista e a "Baixinha", a corajosa jornalista Julieta Leguizamón.
        O livro tem como pano de fundo a política da época, do presidente Fujimori e do famoso "Doutor" , como vemos no trecho do livro a seguir , capítulo 19 , "A Baixinha e o Poder " , páginas 166 e 167 do meu e-book : 

"O que sabia sobre ele? Não muito mais que o resto dos peruanos, na verdade. Que havia sido um cadete e um oficial do Exército obscuro até o golpe militar, do general Velasco Alvarado, de 3 de outubro de 1968, depois do qual se tornou ajudante do general Mercado Jarrín, responsável pelas Relações Exteriores no governo de facto. Estava nesse cargo quando o Exército descobriu que ele espionava e entregava segredos militares para a CIA. O regime de Velasco, que se proclamava socialista, havia estreitado as relações com a URSS, que se tornou nesses anos a principal fornecedora de armamentos ao Peru. O então capitão de artilharia foi preso, julgado, condenado, expulso do Exército e encarcerado numa prisão militar. Enquanto cumpria a pena, estudou direito e se formou como advogado. Foi nessa época que recebeu o apelido de Doutor. Depois que saiu da prisão, com uma anistia, ganhou certa notoriedade como advogado de traficantes, que tirava da prisão ou conseguia reduzir suas penas corrompendo ou intimidando juízes e promotores. Diziam que foi o homem no Peru de Pablo Escobar, o rei da droga na Colômbia. Ao que parece, chegou a conhecer o submundo da justiça como a palma da mão e a aproveitar em seu próprio benefício — e dos seus clientes — tudo o que havia de bagunça e de corrupção nos tribunais. Mas a verdadeira sorte lhe veio, segundo a lenda que cercava sua figura, nas eleições de 1990, vencidas pelo engenheiro Alberto Fujimori. Entre o primeiro e o segundo turnos dessas eleições, a Marinha descobriu que Fujimori não era peruano, e sim japonês. Tinha chegado ao Peru com sua família de imigrantes e esta, para garantir seu futuro, como faziam muitas famílias de asiáticos com intenção de dar segurança aos seus descendentes, havia falsificado (ou comprado) uma certidão de nascimento que registrava seu aniversário no dia da Festa Nacional, 28 de julho. Também tinham forjado um batizado que formalmente confirmava sua nacionalidade peruana. Quando começou a circular na imprensa, entre as duas eleições, que em breve a Marinha de Guerra ia divulgar sua descoberta, Fujimori ficou apavorado. O fato de ser japonês anulava automaticamente sua candidatura, a Constituição era inequívoca quanto a isso. Foi nesse momento que ocorreu, ao que parece, o primeiro contato entre o referido Doutor e o candidato encurralado. O Doutor foi célere e genial. Em poucos dias sumiram todos os indícios da falsificação, e os chefes da Marinha que a descobriram foram subornados ou intimidados para ficarem calados e destruírem aquelas provas. Elas nunca apareceram. A certidão de batismo foi arrancada misteriosamente do livro de registros da paróquia e desapareceu para sempre. A partir de então, o Doutor passou a ser o braço direito de Fujimori e, como chefe do Serviço de Inteligência, presumível autor das piores atrocidades, negociatas, roubos e crimes políticos que vinham sendo cometidos no Peru havia quase dez anos. Dizia-se que a fortuna que ele e Fujimori possuíam no exterior era vertiginosa. O que esse demônio podia querer com uma pobre jornalista de espetáculos, redatora de um jornaleco de pouca expressão que, ainda por cima, tinha acabado de perder tragicamente seu diretor? — Suco e café está ótimo, Doutor — articulou a Baixinha, quase sem voz. Não estava mais assustada, e sim estupefata. Por que a tinha trazido para cá? Por que ela estava na frente do homem mais poderoso e mais misterioso do Peru?"

            *   *  * 

      Ri muito com o capítulo que relata a atitude da Baixinha diante de um assédio sexual por parte dos homens no transporte público coletivo , capítulo VIII - A Baixinha, páginas 61 e 62 : 

"Assim que sentiu que o indivíduo que estava atrás dela no ônibus de Surquillo para Cinco Esquinas se encostava com más intenções, a Baixinha pegou a agulha grande que levava presa no cinto. Deixou-a na mão, esperando até passarem pelo próximo buraco, pois era nos buracos que o espertinho aproveitava para aproximar a braguilha do seu traseiro. Quando fez de novo, ela se virou para olhá-lo com seus enormes olhos fixos — era um homenzinho insignificante, já velho, que de imediato desviou os olhos — e, com a agulha na sua cara, avisou:

— Na próxima vez que chegar perto de mim, enfio isto nessa piroquinha imunda que você deve ter aí. Juro que está envenenada. Ouviram-se umas risadas no ônibus e o homenzinho, confuso, disfarçou, fingindo surpresa: — Está falando comigo, moça? O que foi? — Está avisado, seu merda — concluiu ela, secamente, virando-lhe as costas. O sujeito teve que engolir aquilo e, na certa, constrangido e envergonhado com o olhar de deboche dos outros passageiros, desceu no ponto seguinte. A Baixinha lembrou que essas advertências nem sempre funcionavam, embora ela, em duas ocasiões, tenha cumprido suas ameaças. A primeira, num ônibus dessa mesma linha, na altura do quartel Barbones; o rapaz, que levou uma agulhada no meio da braguilha, deu um berro que assustou a todos os passageiros e fez o chofer frear de repente. — Assim você aprende a se esfregar na sua mãe, bichona! — gritou a Baixinha e, aproveitando que o ônibus tinha parado, pulou para a rua e saiu correndo em direção ao largo Junín. A segunda vez que enfiou a agulha na braguilha de um sujeito que estava se roçando nela foi mais complicada. Era um mulato grandalhão, cheio de espinhas na cara, que a sacudiu, frenético, e iria agredi-la se os outros passageiros não interviessem. Mas o caso acabou na delegacia; só a soltaram quando descobriram que tinha carteira de jornalista. Ela sabia que, de modo geral, a polícia tinha mais medo dos jornalistas que dos malfeitores e assaltantes."

            *   *   * 

     Emocionei-me com o relato sobre o lado bom e o lado negativo de Juan Peineta ter aceitado trabalhar como um dos três piadistas que trabalhavam num programa humorístico na televisão, capítulo X - Os Três Piadistas, página 76 : 

"A experiência com os Três Piadistas tinha sido, dependendo do ponto de vista, um grande sucesso ou o pior erro da sua vida. Um sucesso porque ganhou mais dinheiro que nunca. Ele e Atanasia se deram vários luxos, entre os quais tirar férias em Cuzco incluindo uma viagem a Machu Picchu, e ficou mais conhecido do que em todos os seus anos de recitador. No Peru inteiro! Sua foto saía nos jornais, as pessoas o reconheciam na rua e vinham lhe pedir autógrafos. Jamais tinha imaginado que pudesse acontecer algo assim com ele. Mas foi uma catástrofe porque nunca se sentiu à vontade trabalhando como palhaço, mas sim infeliz, e carregava para sempre um pesado sentimento de culpa: por ter traído a poesia, a arte, sua vocação de declamador. O pior é que no programa dos Três Piadistas até que o faziam recitar. Quer dizer, começar a recitar a qualquer pretexto, só para que os outros dois piadistas o silenciassem com bofetadas que o derrubavam no chão e faziam rolar de rir o público que assistia à gravação do programa e, pelo visto, a miríade de telespectadores que eles tinham em todo o Peru. Eram os momentos em que Juan Peineta pior se sentia nos programas: ridicularizando a divina poesia. “Voltarão as escuras andorinhas” e, paf, “Cala a boca, babaca”, bofetada, cai no chão e risos. “Verde que te quero verde, verde vento” e, paf, “Lá vem de novo o Pelópidas com seus versinhos”, bofetada, estatelado no chão e risos estentóreos."

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     O relato de Luciano para Quique sobre a avó dele , a chinesinha, (capítulo XVI - O latifundiário e a chinesinha; páginas 136 e 137 ), me sensibilizaram bastante também ! Fez-me pensar em como a hipocrisia dificulta a vida das pessoas, as impossibilita de serem elas mesmas e de assumirem o que as torna verdadeiramente FELIZES !!! (Não colocarei aqui este trecho deste capítulo do livro porque não quero que esta minha postagem fique mais longa do que o que já parece estar !!! Hehehe ). 

      O que me fez dar três estrelas para o livro foram as cenas de sexo entre as mulheres ! Deu-me nojo ! Pra quem gosta, aprova, acha correto, curte é um prato cheio ! Tudo bem ! Mas, pra mim , não gosto, não curto, não acho certo e me deu asco ! Mario Vargas Llhosa foi infeliz mesmo na descrição dessas cenas ! Aliás, pelo que estou percebendo, nos livros deste escritor, sempre haverão algumas cenas que me daram ódio, nojo, asco ou sentimento similar ! No livro dele "A Cidade e os Cachorros " (coloquei as minhas impressões aqui sobre esta minha leitura ! ) também teve uma cena de um dos cadetes com um animal que me deu falta de ar ! Odiei !!! Mas, nós sabemos que essas coisas realmente acontecem na vida real, infelizmente !!! 

      Ah, gostei muito dos artistas, escritores, pintores, escultores que são citados neste livro ! Aprendi um pouco sobre Arte ! Valeu !!!   
      
      Bom, dou três estrelas para este livro e não tenho intenção de relê-lo !
 
      *Observação : li este livro para eu poder participar de uma leitura coletiva de um grupo de leitores do Skoob ! 
    

*Guaratinguetá , 16 de  Outubro de 2021. 



*Mario Vargas Llhosa  * 

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, 1º Marquês de Vargas Llosa é um escritor, político, jornalista, ensaísta e professor universitário peruano. Vargas Llosa é um dos romancistas e ensaístas mais importantes da América Latina e um dos principais escritores de sua geração. Wikipédia

Nascimento: 28 de março de 1936 (idade 85 anos), Arequipa, Peru

Parceira: Isabel Preysler (desde 2015)

Cônjuge: Patricia Llosa Urquidi (de 1965 a 2015), Julia Urquidi Illanes (de 1955 a 1964)

Prêmios: Prêmio Nobel de Literatura, Prêmio Planeta, MAIS

Filhos: Álvaro Vargas Llosa, Morgana Vargas Llosa, Gonzalo Vargas Llosa

Pais: Dora Llosa Ureta, Ernesto Vargas Maldonado.