domingo, 8 de novembro de 2020

"O Ano que morri em Nova York " - Milly Lacombe.

 





                                  
Neste livro, Milly narra suas tristezas, seus medos , suas fraquezas , suas carências e eu gostei do livro , principalmente, por essa CORAGEM que ela teve ! Não é nada fácil e confortável , o fato de nós realmente nos DESNUDARMOS diante do outro e / ou de outras pessoas ! 
                                  Tudo começa com a desconfiança de que a mulher dela (Tereza ) a estava traindo com uma amiga ! Isso não fica claro no livro ! (Na minha humilde opinião, houve mesmo uma traição ! ). 
                                  Elas estavam casadas há dez anos e se amavam profundamente e foi o inferno na terra para Milly tomar coragem e vir embora para o Brasil ! Elas moravam em Nova York ! Milly trabalhava como escritora , fazendo frilas e Tereza era uma próspera advogada ! 
                                Milly faz parte da classe média alta ! Temos aqui um estilo de vida de uma mulher sensível, inteligente, lésbica , de família rica e que escreve muito bem e se atreve a tentar sobreviver através dos seus textos ! 
                                Gostei muito dos ensinamentos de Peter e da Renata  em "Alter do Chão "  ; dos ensinamentos da xamã, da índia , da vó do Arnaldo, a senhora Muria-Ubi e diverti-me bastante , ri muito com o jeito extrovertido, autoritário, seguro, alegre e dinâmico da mãe de Milly ! Tenho que lembrar aqui que senti vontade de conhecer a pessoa da Manuella, a primeira namorada de Milly ! Algo me diz que de fato se tratava de uma pessoa especial ! (Que Deus a tenha ! ). 
                            Achei interessante a experiência de Milly com a ayahuasca e cheguei à conclusão que realmente, esta experiência não é pra mim ! (risos).
                            A personagem da qual mais gostei foi a da mãe de Milly e a que menos me simpatizei foi com a Tereza ! Considero-a muito egoísta ! Sei lá ! 
                            Bom, vou deixar aqui alguns trechos do livro ( entre tantos ! ) que eu considerei relevantes !
                            De zero a 10, dou nota 08  para este livro.

                                       *   *   *


"Era uma festa de achados e perdidos, pensei; ainda assim, era das festas mais animadas de que eu já tinha participado. Na pista, Paola e Tereza se acabavam de dançar e de chorar - e eu nem sabia mais pelo que choravam, talvez nem elas. Simone, já cabeluda e bastante corada, dançava agarrada a Lúcia. Valentina e Peter conversavam e riam. A mãe de santo e o rabino seguiam papeando como amigos de infância. O telão rodava as fotos de minha mãe, e volta e meia eu me via, pequena e frágil como a criança que um dia fui, que dependia do olhar materno para existir. Fiquei me vendo nas imagens. " (Posição 4013 do Kindle )"

          *   *   *

"A vida não é colorida como um dia você achou que era. Verdade. E é isso mesmo : as pessoas que a gente mais ama machucam a gente. Tudo verdade, meu amor. Mas a tristeza é bonita e é mais uma das vítimas do preconceito neste mundo do homem branco. Ninguém pode ficar triste. O homem branco, quando vê a tristeza chegar, sai correndo. Para não sentir a tristeza, ele toma um remedinho, bebe ou vai comprar alguma coisa. Tá errado, meu amor. A tristeza é uma professora. Ela ensina, ela abraça. E quanto mais você a aceita, menos feia ela fica. Quanto mais você entende que a vida pode também ser triste, mais vê a beleza disto. As coisas são preciosas justamente porque estão morrendo. Tudo está morrendo. Você, eu, essa pedra, aquelas vacas lá longe, as estrelas. Ter consciência de que estamos acabando gera dor. Eu pedi que você ficasse aqui porque a grande tristeza merece um ritual. A coisa mais desrespeitosa que podemos fazer em relação à tristeza é não a ritualizar. E, para embelezar a tristeza, é preciso ficar sozinho com ela. Ela é uma dama que exige exclusividade. Sair com amigos, beber, buscar distração, nada disso é nobre quando uma enorme tristeza encontra a gente. Quanto à raiva, a gente faz assim : recebe, deixa ela entrar e libera ela para o universo. Não deixa ela dentro de você. Raiva e tristeza não podem existir juntas. A raiva ofusca a tristeza, a dama mais nobre. Então, a raiva você libera a cada expiração, pode ser assim ? Recebe, reconhece e deixa ir. " (Posição 3015 )"

              *   *   *

"Ela tentava me explicar que o ambiente seria capaz de ter efeito sobre os genes, que ambientes estranhos e pesados provocavam uma alteração interna, que os disparos entre as sinapses poderiam passar informações aos genes via circulação e sistema nervoso e que essas informações fariam transformações internas. Ela me dizia que a rotina, nos mesmos ambientes externos, gerava sempre os mesmos pensamentos, as mesmas escolhas, as mesmas experiências e sensações, e que isso fazia com que nossos genes trabalhassem sempre da mesma forma, criando, assim, um mesmo destino genético na forma de ver, pensar, sentir. Lembro-me de ela me dizer que “reações emocionais são memorizadas da mesma forma que o conhecimento” e que esse era um estado de espírito que fazia com que o passado não passasse jamais. “Redes neurais não identificam passado, presente ou futuro”, repetia, rindo, enquanto tomávamos vinho. “Para o cérebro, realidade e imaginação são a mesma coisa”, Manuela dizia, enquanto implorava para que eu abrisse mão da rotina que eu tanto amava. “Novas visões geram novas realidades e, se é difícil mudar o ambiente externo, é perfeitamente possível mudar o interno e, com ele, sua configuração-padrão.” Lacombe, Milly. O Ano em que Morri em Nova York . Planeta. Edição do Kindle."

               *   *   * 

"Desde pequenos, somos treinados a recorrer aos outros. A relação de dependência com nossos pais é a primeira delas. Depois disso, passamos a vida em busca de algum tipo de legitimidade, de aprovação, de figuras de autoridade. Agir por conta própria se torna, com o passar dos anos, um esforço cada vez maior. Eu intuía que, de muitas formas, ainda era uma criança emocional, incapaz de existir por conta própria. Mas, se intuir já é melhor do que nada, por outro lado não é suficiente para gerar transformação. Lacombe, Milly. O Ano em que Morri em Nova York . Planeta. Edição do Kindle."

           *   *   * 

"Eu estava sozinha, não tinha dinheiro, jamais teria, não tinha mais casa, teria que voltar ao Brasil feito uma sem-teto, implorar ajuda de amigos, morreria uma velha fracassada, sem dentes – porque não haveria dinheiro para repor aqueles que a vida vai tirando –, que nunca mais amaria ninguém, muito menos seria amada porque todos me veriam como a abandonada fracassada. Por volta da meia-noite, o telefone de Bruno tocou. Era minha irmã, que tinha tentado me ligar no celular e falou com Tereza, que pediu para ela ligar para Bruno. Ele me passou o celular e disse: — Fica com ele esta noite, porque imagino que será longa. Lacombe, Milly. O Ano em que Morri em Nova York . Planeta. Edição do Kindle."

             *   *   *

Guaratinguetá - Novembro de 2020.



* Milly Lacombe * 


Jornalista

Maria Emília "Milly" Cavalcanti Lacombe é uma jornalista, 

escritora e roteirista brasileira. Tem uma coluna na revista mensal TPM, chamada "Coluna do Meio", e foi uma das pioneiras do jornalismo ... Wikipédia
Nascimento: 1 de julho de 1967 (idade 53 anos), Rio de Janeiro, Rio 
de Janeiro 
Pais: Arnaldo Cavalcanti Lacombe, Adele Paolini Lacombe.